quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Era hora

Não estou pronta para te deixar.
Mas a vida não espera.
A cinza se espalha e não volta a ser cigarro.
Hoje estou triste.
O ponto final chegou onde eu não esperava.
Você já sabia?
As horas somam mais do que eu poderia dormir.
Dedico minhas olheiras a você e à nossa história de amor.
Que acabou.
Acabou?.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Desabafo de ex-poeta

É estranho quando perdemos o costume de ter os ombros leves. Parece que o mundo vai desabar, porém nunca acontece. Parece que a cabeça vai explodir, mas o relógio não zera. O que espera de mim? Grandes ações quando não há chão? Ideias brilhantes em uma mente deteriorada? Sou a fraude que não deu certo. Aquela que abandona o poema para um desabafo sem métrica, sem rima, sem expectativa. Não houve reação. Não houve solução. Minha estátua continua plena. Eu não. Eu choro e lamento. Não ando. Só encho meu coração de tristeza. Ao mesmo tempo que não quero ficar parada, há uma gravidade que dificulta e me embaralha. Estou perdida na vida. Este é um desabafo de socorro.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Concretismo

Dizem que sonhar demais é errado. Criar expectativa. Alimentar ansiedade. Dizem que se deve manter tudo sob controle. Autocontrole.

Dizem que a decepção vem por esperar demais de algo. De alguém. Daquilo que você buscou a vida inteira. Do namorado que não a ama.


Dizem tantas coisas. Palavras que te fazem perder tempo. Ou a si mesma. Como se o concretismo fosse muleta. Separando ideias de realidade de tristeza de cansaço. Separa-se a sentença. Repetindo palavras até se tornarem vulgar.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Sobre ser humana

As falhas estão na transpiração, no respirar, nas escolhas, no sorrir, no carinho, no beijar, no sexo. As falhas estão nas veias. Fluem. Correm. Acontecem.

A chuva não lava, o sangue não drena, a pele fica pálida, fria, com odor insuportável. Não é a morte, é a falha. A falha do querer, do fazer, do beijar e, principalmente, do falar.

Fez-se da madrugada o dia. Cinzento. Amargurado. Um dos últimos? Talvez seja um erro. Compute-o, conte-o.

Descalça, sentada no chão ao pé da cama. A televisão continua desligada. As flores continuam na imaginação. Os risos, o coração palpitante, os suspiros sinceros. Onde ficaram? Resultam em falha.

Falhas. Tão abstrato quanto o sentimento. E de tanto errar, talvez um dia eu acerte. Mais um, compute-o, conte-o.

sábado, 1 de março de 2014

Canção do momento

Ouvi essa canção no beco cheio de pétalas que, outrora, foram flores vermelhas. Era a orquestra que caía dos céus. As luzes se espalhavam pela cidade cinza. Faziam parte do show. Um coro ao fundo fazia performance suave. Mas a voz grave, o protagonista, era delirante.


O beco das pétalas não é meu lugar. A canção fez-se parte de mim. O brilho nos céus me arrepiava. É passageiro. É nostálgico. Nesta noite sem lua, dormirei sob o cheiro de chuva paulistana.